Os jurados definiram na noite desta quarta-feira (7) que
Carla Cepollina é inocente da morte do Coronel Ubiratan Guimarães. Carla foi
absolvida por maioria dos votos. Os jurados consideraram as provas
insuficientes.
O julgamento no Fórum da Barra Funda, na Zona Oeste de São
Paulo, começou na segunda-feira (5).
Para definir se Carla deveria ser penalizada pelo crime,
eles responderam seis perguntas que definiram se houve crime, se a ré poderia
ser considerada culpada e quais as qualificadoras consideradas válidas - motivo
torpe, recurso que impossibilitou defesa da vitima e agravante de a vitima ter
mais de 60 anos.
O julgamento
O terceiro dia de júri começou com o debate entre defesa e
acusação. Os primeiros a falar foram o promotor do caso, João Carlos Calsavara,
e o assistente de acusação, Vicente Cascione, que sustentam que ela matou
Ubiratan motivada por ciúme.
Eles alegaram que Carla e Ubiratan eram os únicos no local e
horário do crime. A afirmação foi feita com base nos horários de trocas de
mensagens de texto e telefonemas entre o coronel, Carla e a delegada de Polícia
Federal Renata Madi, com quem o coronel manteria um relacionamento amoroso.
Entre 18h58 e 19h01, houve a troca de três mensagens entre
os celulares de Ubiratan e Renata, mas as mensagens teriam sido enviadas por
Carla, enquanto o coronel dormia. Carla nega. Às 19h01, ainda segundo o
advogado, Renata liga para Ubiratan. Quem atende é Carla, que passa a ligação
para o coronel ainda sonolento. Ele teria dito à delegada que iria ver o que
tinha ocorrido, já que não era o autor das mensagens, e uma briga teria
começado entre Carla e Ubiratan. Um barulho foi ouvido por vizinhos entre 19h e
19h30, período em que o coronel teria sido morto.
Antes do advogado, o promotor João Carlos Calsavara também
pediu a condenação de Carla e ressaltou seu perfil “impulsivo”. “Ela é reativa,
não aceita ser contrariada. Está no plenário como se estivesse em um shopping”,
disse. Carla chegou a ser expulsa do tribunal por se manifestar durante a fala
de uma testemunha de defesa. Também mostrou irritação ao pedir que o promotor a
chamasse de doutora.
A defesa tentou provar o contrário. "No domingo, o
coronel estava vivo e a prova cabal disso é que a Carla mandou uma mensagem de
texto para ele às 8h21 de domingo e a mensagem chegou às 11h27. Ou seja, o
celular foi ligado", disse Liliana Prinzivalli, mãe e defensora de Carla.
A advogada também usou o resultado do laudo do Instituto
Médico-Legal (IML), que apontou que o coronel foi morto 18 horas ou mais horas
antes da perícia, para afirmar que o assassinato ocorreu no domingo pela manha,
e não no sábado. O corpo do coronel foi encontrado na noite do dia 10 de setembro,
um domingo, e a necropsia foi feita na manhã de segunda-feira.
Liliana defendeu a inocência da filha e criticou a acusação
em sua fala que durou cerca de uma hora. "Quem acusa Carla? Quem
mente", disse, depois de afirmar acreditar que o advogado Vicente Cascione
conhece o suposto assassino de Ubiratan. "Mas acusar a Carla é mais fácil,
dá mais cartaz", disse a advogada.
Depoimento
Em seu depoimento, Carla falou que não há “prova científica”
contra ela. “Não tive direito a uma luta justa.” Ela afirmou ainda que as
acusações são absurdas e que “precisavam de um bode expiatório” para o crime.
Durante seu interrogatório, ela chegou a pedir ao promotor que a tratasse por
doutora. Mais tarde, desculpou-se. Carla falou ainda que gostava de Ubiratan e
que é mentira a tese de que o relacionamento entre eles havia acabado.
Testemunhas
Carla Cepollina começou a ser julgada na segunda-feira à
tarde. O Ministério Público pediu o adiamento do julgamento insistindo que
gostaria da presença da delegada Renata Madi, uma das testemunhas de acusação
convocadas, mas que não compareceu. O juiz decidiu que o júri aconteceria mesmo
assim. Os advogados de Carla também votaram pela ocorrência do julgamento,
apesar de as testemunhas de defesa não terem comparecido.
Os jurados foram sorteados – seis homens e uma mulher – e
começaram os depoimentos. A primeira a falar foi a pianista Odete Campos, de 85
anos, que vive no mesmo andar onde morava o coronel. Ela contou aos jurados que
na noite do sábado 9 de setembro de 2006 ouviu um barulho
"estridente", semelhante ao de uma pilha de pratos caindo ou de uma
pedra na janela. Dias após o assassinato, a polícia reproduziu o barulho de um
tiro com um teste de ruído no edifício. Odete, porém, disse não saber se o
barulho seria semelhante ao de um tiro porque não conhecia esse tipo de ruído.
O segundo a depor foi o delegado Marco Antonio Olivato, que
conduziu a investigação do crime e indiciou Carla. Ele explicou a investigação
e deu detalhes das provas. O delegado alega que há inconsistência nos
depoimentos de Carla e imagens de câmeras que mostram que ela entregou roupas
erradas para a perícia. Falou também sobre registros de ligações telefônicas
que mostram o deslocamento de Carla e ainda sobre depoimentos, como o de Renata
Madi, que ligou para o coronel e foi atendida por Carla.
Na terça-feira, após um atraso de cerca de duas horas em
razão da falta de energia no entorno do fórum, o segundo dia do julgamento
começou com a leitura de depoimentos de testemunhas feitos anteriormente à
polícia ou à Justiça. Entre os relatos lidos está o de Fabrício Rejtman
Guimarães, um dos filhos do coronel, que afirmou que seu pai “tinha pena” de
Cepollina, com quem não queria ter um relacionamento sério. Segundo Fabrício,
Cepollina queria que a relação fosse oficializada, mas Ubiratan já se
relacionava com Renata.
O depoimento da delegada também foi lido. Ela disse que era
apaixonada por Ubiratan, mas que quase não tinha contato com o coronel por
residir no Pará. Também foram lidos os depoimentos da empregada de Ubiratan à
época e de uma amiga de Carla Cepollina, que disse que já visitou o prédio de
Ubiratan e falou que ele não oferece segurança.
Fonte: G1